quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A informação alternativa a serviço das mobilizações políticas e sociais

por Terezinha Vicente



Por iniciativa da Ritimo, uma organização francesa voltada para a comunicação, a serviço da solidariedade internacional e do desenvolvimento sustentável, da Ciranda e do Intervozes, organizações brasileiras, realizou-se seminário reunindo mídias alternativas de vários países, durante este primeiro dia de atividades autogestionadas no FSM Dacar. Na busca da construção “de um mundo menos desigual, que dê a palavra aos excluídos”, disse Myriam Merlant, da Ritimo, “estas organizações são essenciais para o contraponto com a grande mídia”. O objetivo do seminário, que constou de três momentos, foi a troca de experiências e a proposição de ações conjuntas, que levem à organização de um novo Fórum Mundial de Mídias Livres.

Um panorama das novas mídias nos continentes foi desenvolvido no primeiro momento, reunindo experiências diversas realizadas na África, América Latina, Ásia e Europa. Na França, onde há boas leis para a garantia da liberdade de expressão, “a realidade mostra que a liberdade de imprensa já não é tão grande assim, como diz David, do Repórter Cidadão. A classificação desse quesito, medido anualmente naquele país europeu, mostra uma queda do 31º lugar para o 44º, segundo o jornalista. “Metade dos franceses dizem hoje que as coisas não acontecem como a mídia diz, 66% acham que a grande imprensa está sob domínio dos políticos, e principalmente as classes populares acreditam cada vez menos na grande mídia”.

A concentração dos meios também é algo que vem acontecendo na França nos últimos anos, inclusive com novos decretos de Sarkozy, um dos quais determina a nomeação da direção da televisão pública pelo governo. “Nos últimos trinta anos, os pequenos veículos de mídia deixaram de existir”, conta David, e a informação vem se concentrando nos grandes meios, cujos donos são, por exemplo, dois grandes industriais que fabricam armas e aviões; outro investidor da mídia é um negociante de mineração na África. “Estamos cada vez mais dependentes dos grandes meios, mas este não é o único problema”, continua o repórter cidadão. “Antes, os movimentos sociais gostavam quando a mídia aparecia, hoje os movimentos querem a mídia longe, e as pessoas perguntam porque as coberturas são todas iguais”.

Sabemos bem como é essa história no Brasil, e as semelhanças não param por aí. “Tenta-se produzir informação da forma mais barata possível, não há mais reportagem; os jornalistas tem o mesmo perfil social, a maioria vem das classes altas, estudam nas mesmas escolas”. Além disso, segundo David, há o “mito do indivíduo”, onde se valoriza as personalidades por isso e aquilo. “O indivíduo constrói a sociedade, não é a sociedade que constrói o indivíduo, para a mídia; privilegia-se os eventos e não o contexto histórico e difunde-se um pensamento utilitarista. O leitor é consumidor, não cidadão”.

America Latina, África, tudo igual

Na América Latina o modelo de comunicação é o das mídias privadas americanas, não o das mídias públicas da Europa, falou Sally .. , da ALAI – Agencia Latinoamericana de Información. “As mídias comunitárias procuram preencher o espaço da mídia pública, mas são ainda marginais e pequenas, são principalmente rádios”. Neste lado sul do planeta, “falamos mais do direito à comunicação do que à informação”, nestes últimos quinze anos, quando fortalece-se um movimento de luta por esse direito essencial. Grandes empresas, mais que os governos, concentram a comunicação e o debate aumentou com os novos governos mais à esquerda. Sally citou os exemplos da Argentina e da Venezuela, onde grandes mobilizações influíram nesta pauta, e onde o tema vem alcançando os movimentos sociais, que percebem a necessidade de criar suas próprias mídias.

Como participante da comissão de comunicação do FSM, a coordenadora da Ciranda, Rita Freire, salientou a importância de que o Fórum Social Mundial seja portador da mensagem pela democracia nos meios de comunicação. Apresentando os contrastes existentes no Brasil, Rita destacou a criminalização da pobreza e a mercantilização feita pela mídia, distorcendo a realidade, a imagem da mulher, escondendo a maioria afrodescendente, agredindo os direitos da infância. “No Brasil, iniciou-se um movimento para que essa situação seja modificada, que nasceu dos ativistas da comunicação, dos meios alternativos, dos jornalistas ligados aos movimentos sociais, e se transformou num chamamento para que a sociedade brasileira compreenda que essa estrutura de comunicação não é natural, não é democrática e precisa ser modificada”.

Essa movimentação conseguiu que o governo brasileiro convocasse uma conferência nacional de comunicação, e isso aconteceu no último FSM, em Belém, como lembra Rita. “Essa conferência mostrou o quanto estamos cercados e controlados pelos grandes meios no Brasil, que passaram um ano fazendo esforços para que o encontro não acontecesse”. A jornalista lembrou ainda que no último período houve o fechamento de 3 mil rádios comunitárias no Brasil e que os grandes meios atuam para criminalizar as mídias populares, pois existe hoje concretamente um processo de articulação das pequenas mídias, que são agentes de defesa de novas políticas de comunicação em nosso país”.

Informação alternativa no continente africano

Para Alymana Bathily, da Amarc – Sénégal, “hoje, o cenário midiático na África tem pluralismo de informação; mas isso vem da metade dos anos 90, e foi conseguido graças a luta dos movimentos sociais e por conta das revoluções, algumas violentas, como a do Mali, ou a conquista do fim do apartheid na África do Sul. Vimos nascer mídias plurais, temos mídias estatais, que antes eram as únicas, nada privado havia. Aqui no Senegal temos quinze jornais diários; em 1995 haviam dez rádios comunitárias em toda a Africa Ocidental, hoje temos 200”. As televisões privadas desenvolvem-se em toda a África, só no Senegal existem meia dúzia de canais, o que Alymana considera muito para um país pequeno (12 milhões de habitantes). Há muita diversidade, segundo o ativista, há jornais pró governo, contra, de opinião, religiosos, etc.

Outra novidade, segundo ele, é a internet, embora tenha pouca penetração na África subsariana (5 ou 6% da população), em comparação com a África do norte. “A internet desenvolve-se lentamente, mas é bem utilizada pelas rádios comunitárias (62% acesso) e pelos movimentos sociais. Outra coisa é o celular, metade da população africana tem acesso, e isso fez diferença enorme, mesmo que não possam ser usados de modo muito criativo. Até pouco tempo era difícil jornalistas saírem e passarem informação para a redação”. Exemplo disso foram as ultimas eleições, quando os jornalistas puderam cobrir em todos os locais e isso permitiu que a oposição ganhasse. Por outro lado, existe um arsenal de leis sobre difamação e calúnia contra os chefes de estado, o que faz com que os jornalistas pratiquem autocensura; também a formação de jornalistas é outro problema, assim como a falta de equipamentos, principalmente para as rádios comunitárias.

Mohammed Legtas, atua no E-Joussour, do Marrocos, projeto feito pelos movimentos sociais para coordenar ações no norte da África e no Oriente Médio. Nessa região, « o ambiente é hostil aos direitos das mulheres, à liberdade de expressão, as mídias convencionais são totalmente controladas pelo Estado, jornalistas são mandados para a prisão freqüentemente”. O desenvolvimento da mídia alternativa, com a internet, gerou novos militantes, que aprenderam a desenvolver novas plataformas, e filmaram, por exemplo, os soldados recebendo dinheiro da corrupção. Mohammed lembra que nos recentes acontecimentos na Tunísia o celular teve papel primordial, embora o 3G tenha chegado a apenas oito meses por lá. Promover o rádio e a televisão via web é muito importante devido ao analfabetismo.

O E-Joussour não é apenas um site de informação. “Somos muitos ativos na dinamização dos movimentos sociais, trabalhamos muito com tradução,para permitir que o conhecimento chegue para a população árabe e também no uso do vídeo, inclusive com celular. Usamos o software livre, o mais fácil possível, e ensinamos a editar e publicar”. Foi assim que se publicou muito do que ocorreu na Tunisia e Egito. Video-maker no Egito, Mahmoud El-adawy, nos disse que o caminho foi mostrado pelos tunisianos. “Durante muito tempo não imaginamos que uma revolução podia acontecer no Egito, militávamos a partir do Facebook, trocando informações que tínhamos acesso, e isso é até meio irônico, mas descobrimos que isso permitia realizar o sonho de ação juntos”. Sobre o Egito, veja entrevista exclusiva de Mahmoud para Ciranda.

Maris de la Cruz, do Network for transformative social protection, Filipinas, diz que sua rede trabalha pela dignidade e vida das pessoas, mas perceberam a importância de lutar pela comunicação. O trabalho começou em 2009 juntando vários movimentos, envolvendo a Tailândia, Tunísia e Vietnã, além das Filipinas. A idéia é conseguir “garantia dos direitos e fortalecer os movimentos sociais, e ajudando os pobres a conquistarem força coletiva, econômica e política, a partir de benefícios concretos, e transformá-los em em atores do movimento social”. Para ela, o processo de informação tem sido fundamental para a luta por qualquer outro direito. A constituição de 1987 garante o direito das pessoas à informação e declara que é necessário haver transparência completa do Estado, mas até agora o congresso não regulamentou essa legislação. Desde 2000 a sociedade civil luta por isso, “lutam para construir mídia alternativa, mas a influencia das empresas privadas ao governo constitui barreira muito forte, a grande mídia só difunde informações que sejam uteis para eles”.

Assembléia de convergência e novo Fórum de Mídia Livre

Tanta convergência de situações em relação à grande mídia foi mostrando a importância de incrementarmos nossas redes mundiais e a urgência da realização de um novo Forum Mundial de Mídia Livre, com propostas para que seja realizado antes do próximo FSM. Mario Lubetkin, do IPS-Terra Via, de Roma, defendeu que seja realizado no Rio + 20, a realizar-se no próximo ano no Brasil, aproveitando a presença de pessoas do mundo todo.

A proposta também foi defendida por Renato Rovai, da Revista Fórum, do Brasil. Ele acredita que já devíamos ter realizado esse encontro de midialivristas, para que nos sentíssemos mais empoderados. « Precisamos de muitos veículos, inclusive com divergências entre eles, para termos uma visão da diversidade. É fundamental que disputemos a informação, mas não construamos nossos veículos nas mesmas bases da mídia comercial, nossos meios não são verticais, não são comerciais, não utilizam a informação como mercadoria ». O debate veio a propósito de uma colocação de Fazila Farouk, da agência Sacsis, da África do Sul, que defendeu nosso trabalho em conjunto com as mídias já existentes, pois não podemos competir com elas, e « gastamos muito tempo falando uns com os outros ». Participaram das mesas ainda Michel Lambert, do Alternatives, no Canadá, as francesas Agnès Rousseaux, do Basta, e Anne Laurence Mazenq, da RadioForum, e Bia Barbosa, do Intervozes, Brasil. Para o encaminhamento da proposta de novo Fórum mundial de mídia alternativa, Bia propôs a elaboração de um documento conjunto a ser levado na assembléia de convergência dos comunicadores a ser realizada no dia 10, neste FSM. « É preciso envolver o FSM com a luta da comunicação », disse ela, apoiada por vários dos participantes. O documento conjunto está sendo construído, para que se faça um proposição internacional da realização do novo Fórum Mundial de Mídia Livre, provavelmente no ano que vem.

'A comunicação compartilhada é estratégica para o FSM'



10/02/2011
Terezinha Vicente
Ciranda.net


Nunca a informação e a comunicação estiveram tão disputadas no mundo. A discussão das novas tecnologias e seu papel estratégico ocuparam lugar de destaque neste FSM, em Dacar. O poder político das novas ferramentas, as redes de comunicação que se transformam em grandes negócios, como lidar com tudo isso para a democratização da comunicação e a transformação da realidade estiveram em debate, com a presença do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos. Para os participantes, é necessário que os movimentos e organizações entendam a comunicação como estratégica e prioritária, elemento a ser incorporado em todas as lutas.

“Penso que o grande problema que temos é o de saber quem vai se beneficiar com o Wikileaks, pois o imperialismo aprende sempre mais depressa do que as forças anti -capitalistas”, diz o professor. Ele cita como exemplo paradigmático a revolução cubana; enquanto as esquerdas na América Latina debatiam a revolução, o imperialismo tratou de criar logo uma “aliança para o progresso” a fim de combatê-la. “O wikileaks é uma metáfora da comunicação insurgente, porque viola segredos do Estado e das corporações, porque os segredos são fundamentais para eles. Penso que temos que ter acesso às informações do wikileaks antes de ser tratada pelos grandes meios, pois há informações importantes para os movimentos sociais que não estão a ser transmitidas”.

Para Jamie Mccielland, da “May first people link”, organização associativa focada na discussão da internet, em Nova York, o reconhecimento do trabalho do wikileaks, os ataques que receberam depois da divulgação das informações secretas e a resistência e mobilização que gerou no mundo, “mostra que esta discussão é mais complicada e que não estamos protegidos contra esse tipo de ataques, mas mostrou também a fraqueza do sistema capitalista, que usa as mesmas ferramentas, e que o ativismo na internet hoje é bastante representativo”.

Como diz o professor Boaventura, em 2003 foi fundamental a informação rápida na justificativa dos EUA para a invasão do Iraque, mas a luta não foi eficaz. Agora, vimos semanas atrás como a informação pode ser rápida e eficaz, no caso da Tunísia e do Egito. “Não queremos Cairos globais, mas muitos Cairos ao mesmo temo, penso que o desafio é sincronizar nossos movimentos, fazendo pressão de maneira convergente”. Para o intelectual, ligado desde o início ao FSM, este é nosso grande desafio. “Somos capazes de sincronizar ações a nível nacional, ainda não somos capazes de sincronizar ações a nível internacional, para desestabilizar os governos contra outro mundo possível”.

Sincronizar ações é necessário
“Como obter informações não divulgadas pelo Wikileaks?”, pergunta Boaventura. “ Para isso o FSM deveria mudar, faço o desafio ao Conselho Internacional, no sentido de dar mais capacidade à comissão da comunicação, pois há muitas informações uteis aos movimentos e quando tivermos essas informações será possível tratá-las, deveríamos formar uma comissão de investigação. Este é o meu grande desafio, para que pudéssemos nos beneficiar de todas as informações do Wikileaks”.

Como as informações foram divulgadas, o papel dos jornalistas, a mediação da grande mídia, são aspectos questionados por Hilde Stephansen, ativista de comunicação, da Goldsmiths, universidade de Londres. “Precisamos refletir como a grande mídia foi responsável pela mediação, como a mídia alternativa pode trabalhar com o wikileaks de forma similar, pois a comunicação envolve essa coisa dialógica, que vem e vai , precisamos falar do processo, não basta falarmos de tecnologia”. Este aspecto, assim como a questão da falta de privacidade que temos ao utilizar estas ferramentas, foi bastante questionado pelos presentes.

Ferramenta política, poderosa em si mesma, “a internet e o uso das tecnologias está no contexto das disputas mundiais pelo tipo de mundo que temos e o mundo que queremos ter”, diz Rita Freire, coordenadora da Ciranda, que faz a cobertura desde o primeiro encontro em Porto Alegre. O conceito de comunicação compartilhada “foi cunhado pelo FSM, quando se introduziu o acordo entre comunicadores e mídias alternativas de como utilizar as tecnologias de modo coletivo e colaborativo, uma proposta que tem acompanhado os 10 anos do FSM, incorporando novas iniciativas de comunicação”.

“Não há gozo no bailar virtualmente”
Outro aspecto destacado é a questão das mobilizações no norte da África terem se iniciado, passando ao largo dos partidos políticos e dos movimentos sociais, mostrando que existe um terreno fértil para a insurgência contra os estados antidemocráticos. “Toda a comunicação virtual hoje é realmente um grande desafio aos movimentos sociais, pois penso que esta divisão que fazemos dos movimentos com os cidadãos não organizados tem que ser superada, pois eles podem se mobilizar e engajar num determinado momento”. “Estas manifestações, por exemplo, são muito eficazes para derrubar ditadores, como o da Tunísia, mas temo que queiram mudar o sistema para passar a outra ditadura, pró americana, pró Israel, anti palestina e anti Hamas”, analisa Boaventura. “Penso que devemos ter outra relação entre o movimento social e virtual, este fórum é um cara a cara fundamental, mesmo com os problemas de organização, precisamos de outra conexão entre o mundo real e o virtual”.

Temos esperança que essas novas tecnologias cheguem rapidamente a todas as pessoas, mas a maioria das pessoas e das organizações ainda não alcançou o contato com a informação direta, nem consegue comunicar para todos. “Lutamos ao mesmo tempo por infraestrutura e atuamos pela colaboração, pela solidariedade”, diz Rita Freire. “Não entendemos a comunicação compartilhada apenas como a internet compartilhada, a nossa expectativa era de estar trabalhando mais fortemente com as rádios comunitárias, em parcerias que permitissem a quem produz conteúdo, distribuir esse conteúdo a quem fala e dialoga diretamente com as comunidades, através dos meios disponíveis”.

Para o professor, é necessário desenvolver-se a proposta da universidade popular, surgida em 2003, para que possamos juntar os movimentos sociais mais diversos, discutir os problemas e os preconceitos que impedem de ações conjuntas realmente. “Entre os movimentos a comunicação deveria ser horizontal”, segue o professor, “e não é devido a uma hierarquização existente”. Outro problema são as diferenças culturais que geram conceitos diferentes; por exemplo, “o conceito de diáspora é uma coisa na América do Norte, outra na Ásia, e outra ainda na África; o socialismo, conceito apoiado por muitos de nós, é considerado uma armadilha dos brancos para os indígenas”.

“O contato real, o face a face vai ser sempre fundamental, não há gozo no bailar virtualmente”, conclui Boaventura. “A gente continua a fazer uma diferença entre comunicar e agir, e este é o grande problema. Por isso penso que a comissão de comunicação tem que ser mais central no FSM, temos que mudar o paradigma da comunicação. A comunicação partilhada é o grande desafio”.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Nova oportunidade para o FSM

Postado por Emir Sader

Poucos meses depois da realização do seu primeiro FSM, em janeiro de 2001, o movimento foi atropelado pelos atentados de outubro do mesmo ano e pelas reações norte-americanas. Um movimento que pretendia centrar sua ação nos movimentos sociais, prescindindo das forças politicas e tudo o que estivesse atrelado a ela – partidos, Estados, etc.,etc., a ponto de alguns propalarem “mudar o mundo sem tomar o poder”, enquanto outros subestimavam o papel dos Estados e do imperialismo tradicional. – teve dificuldades de assimilar o papel renovado dos Estados, do imperialismo, da guerra – todos fenômenos vinculados à esfera política.

O movimento conseguiu reagir participando das maiores manifestações jamais existentes, contra a guerra do Iraque. Porém, ao não assumir conscientemente a nova situação internacional, o FSM nem sequer fez balanço dessas gigantescas mobilizações e seguiu seu caminho como se nada tivesse acontecido. Em um mundo em que, nunca como antes, o poder do império, dos Estados nacionais, das guerras, da estratégia, dos partidos políticos, foram assumindo mais claramente ainda sua vigência.

Paralelamente, na América Latina foram surgindo governos eleitos contra o neoliberalismo, que por sua vez reafirmavam o papel dos Estados nacionais, das forças politicas, das estratégias, dos processos de integração regional levados adiante pelos governos.

O novo FSM, realizado pela segunda vez na África, tem uma nova chance de se articular com os processos políticos realmente existentes, com a crise dos regimes políticos do Oriente Médio, que se desenvolve aqui perto, nos países do norte da África.

Para isso teriam que ter sido convidados representantes das forças politicas que protagonizar as imensas manifestações de oposição aos governos ditatoriais da região. Eles poderiam conhecer as experiências latino-americanas diretamente do Evo Morales e do Lula, das delegações dos outros países latino-americanos que levam adiante com sucesso processos de superação do neoliberalismo. Não está claro que representantes estarão presentes da Tunísia, do Marrocos, da Argélia, do Egito, da Jordânia, da Arábia Saudita, entre outros países da região.

Elevado a tema central do FSM, este ganharia uma concreção e uma atualidade que, de outra forma, terá muito mais dificuldades para ter. Deve, também, fazer um balanço da evolução da crise internacional – tema central do FSM anterior, de Belém. Poderia constatar que os países – prioritariamente os do centro do capitalismo, que causaram a crise – que reagiram com politica recessivas, de intermináveis ajustes fiscais, seguem em crise, com desemprego recorde, envoltos nas politicas do FMI que – como nós sabemos – fazem parte da crise e a aprofundam.

Enquanto que os países do Sul do mundo, especialmente os latino-americanos, que reagimos com medidas de reativação econômica, com os Estados atuando para incentivar o desenvolvimento, intensificar as politicas sociais, aumentar o nível de emprego e o poder aquisitivo dos salários durante a crise, saímos dela rapidamente e retomamos nosso ciclo expansivo. Esse justo balanço servirá também para que o FSM se dê conta – os setores que ainda não se deram conta – do papel dos Estado e da esfera politica, articulados com os movimentos populares , na resistência e na superação da crise.

É uma nova oportunidade para que o FSM não fique girando em falso, apoiado em premissas superadas ao longo de toda a década que agora termina, em que passamos da resistência à construção de alternativas, para o que restabelecemos, de outra forma, as relações das lutas sócias com esfera politica e estamos sendo capazes de superar o neoliberalismo – objetivo central FSM, quando aponta para a construção do “outro mundo possível.”

Postado em Carta Maior

Fórum Social Mundial discutirá direito à comunicação no mundo

Evento que retorna à Africa em 2011, agora sediado em Dakar no Senegal, deverá reunir diversas entidades da sociedade civil para discutir uma outra sociedade possível.

O Fórum Social Mundial retorna pela segunda vez à Africa, em sua edição de 2011. O encontro, que já foi sediado em Bamako (Mali), em 2006 – quando o evento aconteceu simultaneamente em três continentes -, e em Nairóbi, Quênia, em 2007, acontecera agora em Dakar, capital do Senegal, e deverá reunir diversas entidades da sociedade civil ao redor do mundo para discutirem os rumos de uma outra sociedade possível.

Entre os 12 eixos escolhidos para orientar as atividades realizadas no evento, dois em particular interessam diretamente à comunicação: o eixo 3 – Pela aplicabilidade e efetividade dos direitos humanos; e o eixo 5 – Pelos direitos inalienáveis. Entre as atividades já confirmadas está um seminário que o Intervozes ajudará a organizar em parceria com outras 8 entidades do Brasil, Equador, Marrocos, Senegal e França. O objetivo é discutir o direito à comunicação em diferentes países e construir estratégias de atuação conjunta em torno da produção de informação para mobilização social. As organizações proponentes do seminário discutirão ainda uma possível parceria para a realização do 2º Fórum Mundial de Mídia Livre em 2012.

Outra atividade importante já confirmada no Fórum é um debate sobre o Wikileaks, com a presença do sociólogo português Boaventura de Souza Santos, organizado pela Ciranda em parceria com o Intervozes e o Fenment, da Tanzânia.
Visibilidade

Como historicamente há pouco interesse por parte dos grandes meios de comunicação em difundir ao mundo os debates e articulações políticas que acontecem no processo do Fórum Social Mundial, a organização do evento está preparando o terreno para que os comunicadores dêem voz aos participantes do encontro. Uma estrutura com alojamentos para 320 jornalistas e sala de imprensa com computadores e internet wireless são algumas facilidades para que a cobertura internacional do evento aconteça de forma efetiva.

Uma oficina com imprensa local, agências internacionais e organizações de comunicação está sendo programada para janeiro, com a intenção de preparar a cobertura do Fórum. A ideia é que, mais uma vez, aconteça a cobertura compartilhada do FSM, onde comunicadores do mundo todo trabalham de forma colaborativa para difundir as atividades e acontecimentos do Fórum. Já está confirmada mais uma edição da Ciranda da Informação Independente (www.ciranda.net) e do Fórum de Rádios, que está sendo organizado pela Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc) em parceria com diversas emissoras africanas.

Do Intervozes

Fórum Social das Américas - um fórum originário



Egon Dionísio Heck

Eles estão aí com suas múltiplas cores, línguas, artes, vestimentas, mostrando a bela diversidade do continente americano, Abya Yala. Os povos indígenas originários estão dando um tom todo especial a esse Fórum. E o estão fazendo não mais com o assento na denúncia da dominação e massacre secular do projeto colonizador, mas a partir das propostas de vida emergidas de sua sabedoria milenar, de suas raízes profundas, de seus projetos de vida. Da resistência, das sementes lançadas nas brechas dos muros do sistema colonial, capitalista, neoliberal, nasce uma nova matriz civilizatória, o bem viver.

Num momento de profunda crise planetária, política, econômica, social e ambiental, a América latina é o solo fecundo onde emerge e se gesta uma verdadeira revolução, uma nova matriz civilizatória vai sendo construída. Conforme diz Irene Leon "Isto é patente tanto nos enfoques de refundação sustentados em torno ao Sumak Kawsay (Bem Viver) Suma Qamaña (Viver Bem), Ñandereko (Vida harmoniosa), como aqueles que se fazem em torno ao Scocialismo Comunitário e do Século 21". (Alai, julho 2010)

O Bem Viver como Boa Notícia


Nesta verdadeira primavera latino-americana, no coração do continente, o Paraguai, se houve o grito plural de uma nova América, Abya Yala, não só possível, mas necessária e urgente, mas em construção, em caminho, aflorando das raízes indígenas originárias, afrodescendentes e campesinas deste continente. Recolhe, como as águas da resistência, das milhares de vidas ceifadas, dos heróis e mártires da justiça, dos ideários e testemunhos revolucionários, que passam por Martí, Che Guevara, Sepé Tiaraju e milhões de lutadores e guerreiros da justiça, da igualdade e da vida solidária e fraterna no continente latino-americano.

O Bem Viver, é mais do que uma inspiração, uma utopia, valores, um novo paradigma de vida e sociedade. É uma raiz milenar e plural que torna as experiências históricas dos povos deste continente, suas cosmovisões, suas relações com a Pacha Mama(mãe terra), suas diversidades e a centralidade da vida, como base e inspiração para desconstruir o projeto colonial e atual modelo capitalista neoliberal, e construir novos projetos de sociedade, no inicio deste século 21.

Nos vários espaços desse IV Fórum Social das Américas, pode-se sentir o pulsar forte do coração do continente em busca dos novos caminhos que vão sendo feitos, caminhando, debatendo, somando, sonhando, partilhando e construindo. A caminhada de abertura, por mais de três horas, pelas ruas de Assunción, simbolizou a determinação e necessidade de avançar na construção de redes dos movimentos sociais do continente, que sustentem e impulsionem a árdua luta contra o sistema necrófilo que celeremente destrói o planeta Terra e ameaça a sobrevivência da vida mesma dessa nossa casa comum.O caminho poderá ser duro, sofrido e longo, mas é urgente, desafia e convoca a todos os povos para se unirem em torno desse grande mutirão da vida e nova civilização.

Os processos de mudanças no continente latino-americano são a mola propulsora da esperança. Não são apenas sonhos, mas são propostas sendo construídas em meio a inúmeras contradições, avanços e recuos; mas com a firme determinação de enfrentar toda forma de imperialismo e dominação. E sentimos nesse pulsar o néctar do Bem Viver, como bem o define René Ramirez "um conceito complexo, não linear, historicamente construído e em constante resignificação... identifica como finalidades: a satisfação das necessidades, a conquista de uma qualidade de vida e morte digna, o amar e ser amado/a, o florescimento da saúde para todos e todas, em paz e harmonia com a natureza, e a prolongação indefinida de culturas, ...o tempo livre para a contemplação e a emancipação, e que as liberdades e oportunidades, capacidades e potencialidades se ampliem e floresçam". (Alai, julho 2010)

Um Fórum em Guarani

Os grandes anúncios do Fórum são também feitas em Guarani, uma das línguas oficiais do país anfitrião -ñane Amerika tee oñemongu’ehína!- nossa América está no caminho!

Porém os povos Guarani, presentes em cinco países deste continente, esperam que esse Fórum também seja um momento importante para ser não apenas conhecido seu idioma, sistema de vida e rica cultura, mas principalmente que haja um posicionamento quanto à urgente devolução de seus territórios tradicionais, condição indispensável para continuarem vivendo enquanto povos e contribuíram e continuarão contribuindo para a construção dessa nova América possível, necessária e urgente. Em vários momentos estarão sendo debatidos e visibilizada essa realidade do povo Guarani. Haverá uma palestra e debate sobre o Bem Viver do povo Guarani, apresentação e debate sobre o mapa Guarani Reta, debate sobre os impactos das grandes obras sobre esses povos, especialmente a construção de Itaipu, que inundou o território de 34 comunidades Guarani e até hoje não lhes restituiu terras.

Porém nesses dias o povo Guarani no Paraguai teve uma pequena, mas significativa vitória. A comunidade de Cerro Puytã, depois de ficar acampada, com mais de cem pessoas numa das praças centrais da capital, teve finalmente conquistado o título de parte de sua terra. Os 2.350 hectares significam uma possibilidade de sobrevivência com mais dignidade para esta comunidade Guarani.

Campanha Povo Guarani Grande Povo
Assuncion, 13 de agosto de 2010.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

São Paulo sedia edição temática do FSM em 2011

Evento abrangerá a Grande São Paulo com atividades descentralizadas e centralizadas; a Plenária de Lançamento do processo de construção será em 9 de novembro de 2010 e aberta à participação de todos. O Fórum Social de São Paulo é uma iniciativa de organizações da sociedade civil que atuam na Grande São Paulo, unidas sob o lema “Outra cidade é possível, necessária e urgente! O que fazer?”.

Sob o lema “outra cidade é possível, necessária e urgente! O que fazer?”, acontecerá no dia 9 de novembro, na FAU Maranhão, um evento que marcará a construção coletiva do Fórum Social de São Paulo (FSSP). A sociedade civil está convidada a participar e a contribuir efetivamente para a realização do Fórum, previsto para acontecer em maio de 2011. Ainda no dia 9, os presentes poderão contribuir para a escolha de um conceito visual para o FSSP.

O objetivo deste lançamento é mobilizar pessoas, movimentos sociais e culturais, redes, campanhas e organizações para incluírem o Fórum em suas agendas e construírem processos de articulação permanente. A intenção é que possam fortalecer suas lutas, constituir planos de ação conjunta, e ainda, viabilizar o primeiro encontro do FSSP, previsto para o ano que vem.

Elaboração do conceito visual para o FSSP


Na Plenária de Lançamento também será escolhido, por meio da consulta aos participantes, o conceito visual do FSSP que servirá de inspiração para a criação de sua identidade visual. Todos estão convidados a criar propostas! Os interessados devem entrar em contato com o Escritório do FSSP pelo email fssp2011@gmail.com para mais informações.

Realização do FSSP

A proposta é de que o Fórum Social de São Paulo aconteça em maio de 2011, nos finais de semana dos dias 14 e 15, 21 e 22. O Fórum Social de São Paulo é uma iniciativa de organizações da sociedade civil que atuam na Grande São Paulo, unidas sob o lema “Outra cidade é possível, necessária e urgente! O que fazer?”.

Com base no processo da organização da 10ª edição do Fórum Social Mundial, o Fórum Social de São Paulo prevê a realização de encontros e ações descentralizadas, de modo que movimentos e organizações se reconheçam, se articulem e descubram convergências localmente.

Nestes encontros, farão parte da programação temas como: mobilidade urbana, direito à moradia, privatização e precarização de serviços essenciais, democratização da cultura e da comunicação, meio ambiente, sustentabilidade, exercício da cidadania e da atividade política, violação dos direitos fundamentais entre muitos outros, de atuação e interesse das organizações. A participação é aberta a todos que estejam de acordo com a Carta de Princípios do Fórum Social Mundial.

PLENÁRIA DE LANÇAMENTO DO FÓRUM SOCIAL DE SÃO PAULO

Dia: 9 de novembro
Local: FAU Maranhão.
Endereço: Rua Maranhão, n.88, Consolação.
Horário: 18h30

Informações:

www.forumsocialsp.org.br

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Eventos e atividades em todo o mundo marcarão os 10 anos do FSM em 2010

Em 2010, o Fórum Social Mundial celebrará 10 anos de seu processo. Para marcar a data, o Conselho Internacional do fórum decidiu, em sua última reunião, realizada em maio em Rabat, no Marrocos, que ao longo de todo o próximo ano o processo FSM terá um caráter permanente, com múltiplos eventos em todo o mundo. O CI propõe que o tema da crise global seja o elemento de identidade comum do processo em 2010.


Próxima edição do FSM será em Dakar, na África, em 2011

A última reunião do Conselho Internacional do FSM, realizada em maio, aprovou a realização do próximo Fórum Social Mundial em Dakar, no Senegal, em 2011. Segundo os organizadores do Fórum Social Africano, a proposta de Dakar tem o apoio de inúmeros movimentos sociais da África, como organizações feministas e centrais sindicais.


Fórum Social do Québec acontece entre os dias 9 e 12 de outubro

De 9 a 12 de outubro, acontecerá em Montréal, no Canadá, a segunda edição do Fórum Social do Québec. São esperados mais de seis mil participantes.

Veja mais informações no site do evento: Fórum Social

Confira também a agenda completa de mobilização para o segundo semestre:
Notícias Fórum Social


FSM Belém 2009

a) Resultado das assembleias

No sexto dia do FSM 2009, o palco central da UFRA (Universidade Federal Rural do Amazonas) reuniu milhares de ativistas e representantes de movimentos e organizações para assembleias temáticas cujas declarações foram apresentadas, ao final, em uma Assembleia das Assembleias.

Para conhecer os resultados, acesse: Resultado das assembleias



b) Cobertura da mídia

O FSM 2009 recebeu mais de 800 veículos de 30 países. Cerca de 2500 jornalistas e profissionais de mídia estiveram em Belém e outros 2000 cobriram o Fórum a distância.
Veja um clipping do que foi publicado na internet em: :Cobertura da mídia

O FSM Belém também foi palco de um processo participativo de mídia independente através dos projetos compartilhados de mídia. Veja o que foi publicado:

- Ciranda
- Foro de Radios
- WSF TV



c) Certificados de participação

Baixe e imprima o seu certificado de participação: Certificados



fonte: Boletim FSM